Os órgão ibéricos do Porto.
Instrumentos de música litúrgica e autênticas obras de arte.
É muito comum ao entrarmos nas igrejas portuguesas nos depararmos com o esplendor da talha dourada que reveste os diversos altares desde o séc. XVIII quando o barroco transforma estes locais de cultos em palcos litúrgicos com uma linguagem bastante teatral.
Sobretudo no Porto e no Norte de Portugal sob a influência do arquiteto italiano Nicolau Nasoni, é raro não encontrarmos a arte do barroco ressaltar às nossas vistas.
Mas existe um elemento que sempre chama a minha atenção nestas igrejas. É o órgão ibérico.
Instrumento que como o nome diz foi desenvolvido na Peninsula Ibérica e é de grande complexidade e de uma beleza artística musical e construtiva impressionante.
Já havia me encantado por este instrumento tão único e esplendoroso quando fiz em 2015, uma visita guiada ao órgão ibérico da belíssima Igreja de São Francisco, orientada pelo Prof. Isolino Dias.
Anos mais tarde em 2019, voltei ao universo dos órgãos ibéricos através do consultor da Direção Regional de Cultura do Norte, o Nuno Mimoso, que é sacro organista e pedagogo na Alemanha. Acompanhei-o numa visita guiada ao órgão da Igreja do Mosteiro de São Bento da Vitória e também ao órgão da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira em Guimarães.
Na Igreja de São Bento da Vitória |
E o Nuno Mimoso na Igreja de N. Sra. da Oliveira em Guimarães |
E foi através da sua apresentação, no âmbito do Mestrado em estudos do Patrimônio da Universidade Aberta sobre o órgão histórico da Igreja do Mosteiro de Refojos em Cabeceira de Basto que descrevo abaixo os motivos pelo qual devemos ter a atenção de apreciar os órgãos ibéricos ao entrarmos nas igrejas portuguesas.
"São instrumentos de obra eclética, criativa e multidisciplinar que envolve a talha, o doureamento, a pintura, a organaria, a mecânica, a engenharia e a acústica.
Apresenta-nos complexidade técnica, artística e refinamento estético. Cada órgão era construído especificamente para cada igreja, de acordo com o espaço que iria ocupar"
Este da Igreja da Lapa, tem uma harmonia incrível com o vitral ao centro. |
Os órgão ibéricos possuem normalmente entre 1500 à 2000 tubos que proporcionam os mais diversos sons, desde os da natureza até os semelhantes às vozes humanas. Estamos diante de uma verdadeira orquestra. Sons que pretendiam alcançar os céus.
Recomendo vivamente numa oportunidade, a ouvir um concerto de órgão ibérico.
Na Igreja dos Clérigos no Porto todos os dias ao meio-dia há sempre uma apresentação gratuita que leva-nos à uns bons momentos quando estamos pelo Centro Histórico do Porto.
Na Igreja dos Clérigos, os dois órgãos estão frente à frente de acordo com a típica simetria barroca e encontram-se nas laterais do altar mor |
A parte visível destes órgãos são conhecidas como caixas, e eu digo visível porque existe uma outra parte que não se vê e que é uma verdadeira sala onde está a máquina que põe tudo a funcionar.
Existem mais de 700 órgãos ibéricos em Portugal mas infelizmente a maioria deles não está a funcionar, justamente devido à complexidade destes instrumentos, que merecem ser olhados de outra maneira.
a sala/máquina que faz o órgão funcionar. |
No Porto é possível apreciar belíssimos órgãos ibéricos nas seguintes igrejas:
Sé
Igreja do Mosteiro de São Bento da Vitória
Igreja da Lapa
Igreja dos Clérigos
Igreja de São Lourenço
Igreja de São João Novo
Igreja de Santa Clara (atualmente fechada para restauro)
Igreja do Corpo Santo de Massarelo
Igreja de São Pedro de Miragaia
Igreja de São Nicolau
Igreja de São João das Taipas
Igreja de Santo Ildefonso
Igreja de Lordelo do Ouro
Igreja de São João da Foz
Igreja da Trindade
Igreja da Misericórdia
Igreja dos Congregados
Capela da Almas
na igreja de São Lourenço |
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