Viver num museu. Na Casa Museu Fernando de Castro.
Certamente este era o desejo de Fernando de Castro, um portuense filho de um grande comerciante que tinha uma empresa de vidros e louças e artes decorativas na famosa Rua das Flores, no centro do Porto: viver por entre obras de arte, peças decorativas, livros, recordações e o mais impressionante é que estes espaços são inteiramente cobertos por talha dourada, sim... como as igrejas e os conventos.
A Casa Museu Fernando de Castro surpreende de tal maneira que é difícil descrevê-la. Talvez nenhuma imagem poderá transmitir a curiosidade de imediato de querer saber mais sobre a pernonalidade no mínimo excêntrica do seu antigo morador.
Eu já havia lido sobre esta Casa Museu há uns 2 ou 3 anos, o excesso de trabalho e a pandemia Covid-19 foram adiando a minha visita, mas há poucos dias fui recebida numa visita guiada a este espaço muito diferente na cidade do Porto. A partir da rua, a sua fachada passa despercebida por ser um edifício que nos remete às muitas casas burguesas que existiam na região da Rua de Costa Cabral, mas ao entrar, é inevitável a surpresa.
Não existe um espaço vazio. Ambientes comuns de uma casa, como hall de entrada, sala de leitura, escadas, sala de jantar, quarto e até uma sala de bailes, são totalmente preenchidos.
Há uma certa sensação de estarmos diante de retábulos de um altar mor, coros altos ou espaços de conventos e mosteiros. Tudo tem a teatralidade do barroco.
Fernando de Castro nasceu no final do séc XIX e apesar de se tornar negociante como o pai, o seu interesse passava mais pela poesia, caricaturas e era um colecionador sem limites.
As caricaturas que fez ao longo da vida decoram um dos espaços da casa. Publicou alguns livros de poemas mas sobretudo, lia muito pois os livros estão por toda parte.
Decorou a sua casa com tudo o que colecionou.
Fez-me lembrar um outro colecionador obsessivo, Henrique Amorim, fundador da corticeira Amorim que também conquistou um acervo impressionante, hoje exposto no Museu de Santa Maria de Lamas.
Na primeira sala da Casa Museu Fernando de Castro, o retrato dos seus pais |
As caricaturas de sua autoria |
uma escultura do antigo morador da casa, a partir de um retrato que se encontra no seu quarto |
Confesso que fiquei curiosa para conhecer a personalidade desta figura tão intrigante que transformou a sua casa num museu com peças tão curiosas como a sala conhecida como do Minho, onde muitos objetos nos remetem à região do Minho, no Norte de Portugal.
pormenor de um dos tectos |
Infelizmente não foi encontrado nenhuma documentação que informe a origem de todas as peças, por isso é feito um trabalho constante de investigação para se tentar descobrir a sua procedência.
Os retábulos em talha dourada por exemplo presume-se que foram adquiridos de igrejas, conventos e mosteiros extintos.
Depois da morte de Fernando de Castro em 1946 e como não tinha herdeiros, sua irmã Maria da Luz de Araújo e Castro doou toda a coleção ao Estado, dando origem assim à Casa Museu que em 1952 passou a ser administrada pelo Museu Nacional de Soares Reis.
Aproveite a visita para apreciar naquela região mais afastada dos principais pontos turisticos do Porto, a Praça do Marquês e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Espaços bastante frequentados pelos locais.
Casa Museu Fernando de Castro
Rua de Costa Cabral, 716 - Porto
Visitas com marcação (máximo 10 pessoas):
tl. 223 393 770
Estação de Metro Combatentes Linha D
Que grande acervo !!
ResponderExcluir👏🏻👏🏻👏🏻
Sim Cristina! Lugar incrível!
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