Batalha, o Cinema que voltou para o Porto.

 

Fachada branca e envidraçada do edifício do cinema Batalha

O edifício de arquitetura modernista salta às vistas de quem circula na Praça da Batalha por onde o comércio tradicional fervilha ali ao lado na Rua de Santa Catarina. À noite quando as luzes do seu interior estão acesas, a partir das paredes envidraçadas, brilha como um diamante.

Mas não foi sempre assim. O Cine Batalha reabriu as suas portas no fim de 2022 depois de um longo período de reabilitação.
Foram quatro anos em que os arquitetos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, tiveram que começar praticamente do zero para tentar reconstruir o Batalha e refazê-lo quase que idêntico como foi inaugurado em junho de 1947.

A história do Batalha começa bem antes, no  final do séc. XIX quando ainda se chamava High-Life e era uma construção bem simples localizada na Boavista, inaugurado por Aurélio da Paz.
Logo mudou-se para o Jardim da Cordoaria, mais próximo do centro do Porto e em 1908 mudou-se para a Praça da Batalha e já com o nome Cinema Batalha.
Em 1947 foi substituído pelo edifício modernista que hoje conhecemos e que foi um projeto do arquiteto Artur Andrade já conhecido na época por outros projetos modernistas da cidade como o antigo Café Rialto na Rua 31 de Janeiro.

 A inauguração novo Cinema Batalha em 1947 foi um evento grandioso na cidade. Uma noite de gala com valor do bilhete altíssimo para a época, mas acompanhado de uma ceia repleta de iguarias.
O primeiro filme a ser exibido naquela noite foi o documentário do célebre portuense Manoel de Oliveira: "Douro, faina fluvial" que vai poder ver na íntegra no final deste artigo.  

O Cinema Batalha passa a ser um património cultural da cidade do Porto e ao longo dos anos, apesar de sofrer com as interferências politicas do Estado Novo (leia-se Ditadura) fez parte do dia a dia dos portuenses.
Por isso a valorização da sua recuperação. Um edifício em pleno para os amantes de cinema e de arquitetura.

Fachada branca e envidraçada e com alto relevo do cinema Batalha

Mas nem tudo foram flores para o Cinema Batalha. O arquiteto Artur Andrade era um ativista contra o Estado Novo assim como o pintor Júlio Pomar, na época com 19 anos e escolhido pelo arquiteto para executar as pinturas no interior do edifício.
Ambos foram presos e Júlio Pomar foi impedido de terminar os seus murais que apenas foram vistos no dia da inauguração do cinema e pouco mais, porque foram imediatamente cobertos com  sete camadas de tinta para nunca mais serem apreciados. 
Mas nunca é uma palavra  para não se dizer porque 75 anos depois as pinturas foram incrivelmente recuperadas e só por isso vale a pena entrar no Batalha, a qualquer hora do dia porque ele está aberto não só para as sessões cinematográficas mas para apreciarmos tal beleza.

mural pintado com várias figura humanas em cores pastel e corrimão de madeira



painel pintado na parede com várias figurs humanas, um balcão e corrimão em madeira  e algumas poltronas


mural pintado  com figuras humanas, um balcão  e um corrimão em madeira e algumas cadeiras

Além disso o Batalha assume-se como um espaço para ser utilizado por todos e dispõe de uma pequena biblioteca com espaço para trabalhos em computador. Possuem também uma livraria com um acervo dedicado ao cinema e um café, que está localizado na antiga sala bebé que era uma segunda sala de projeção, bem menor do que a sala principal. A programação do cinema está em toda parte para que todos possam levar e escolher calmamente o que assistir. Algumas programações são de entrada livre e se você é do Brasil e está visitando o Porto lembre-se que o idioma vai lhe permitir assistir uma sessão falada ou legendada em português.

prateleira com livros e uma mesa com 4 cadeiras e uma luminária

parede em madeira do Cinema Batalha e painéis envidraçados

livraria com algumas prateleiras balcão e várias pessoas n cinema Batalha

Mas voltando a falar da arquitetura deste fantástico espaço, há que se lembrar que na altura da sua construção estávamos em fins das Segunda Guerra Mundial, havia contenções de custos e o material era escasso, por isso o cinema foi construído com diferentes tipos de materiais, o que ajudou a degradação quase que completa do edifício, quando todas as salas de cinema deixam de ser frequentadas devido ao aparecimento dos videoclubes e da tv a cabo.
O cine Batalha fechou as suas portas em 2003. Reabriu em 2006  e fechou novamente em 2010. E para todos da cidade era difícil passar por lá e ver aquele edifício completamente ao abandono.
Em 2012 a Câmara Municipal do Porto, através do seu presidente Rui Moreira, dedica-se em alugar o Batalha à empresa Neves & Pascaud (atual dona do cinema), e convida os arquitetos Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez a devolverem o cine Batalha ao Porto.

Tela de cinema e uma mulher e 3 homens em pé na frente da plateia
Visita Guiada com os arquitetos responsáveis pela recuperação do edifício (ao centro)

cadeiras azuis na plateia do cinema Batalha
Sala principal de projeções

luzes da sala de cinema e dois projetores de filmes
os dois projetores analógico e digital


Visitar o cine Batalha, seja para assistir algum filme ou circular por entre os seus espaços para apreciar a sua elegante arquitetura modernista é conhecer um monumento que resistiu.

" O Cinema Batalha é uma obra de arte absoluta, não deixando de ser, só por existir, um facto heroico de resistência ativa, como que anunciando uma sociedade e uma cidade de liberdade e bem-estar coletivo"
Frase retirada do livro Batalha Retrospetiva  do Futuro - lançado em Junho de 2023. E de onde extraí várias informações sobre o edifício assim como na ocasião da visita guiada com os arquitetos. 

uma mão segurando o livro Batalha Retrospetiva do Futuro

 
Praça da Batalha, 47 - Porto
Programação, horários e demais informações: 







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