Uma visita ao Palácio da Justiça e ao Museu Judiciário do Porto.
Há muito tempo que eu estava para visitar este edifício tão imponente ao lado do Jardim da Cordoaria e a poucos passos do antigo Tribunal que se encontrava no mesmo edifício da Cadeia da Relação do Porto, onde hoje é o Centro Português de Fotografia, e que já escrevi a respeito: neste post do blog.
E confesso que saí da minha visita que fiz há alguns dias, a pensar: como é que eu demorei tanto tempo para conhecer o interior do Palácio da Justiça e do Museu Judiciário?!
Que lugar interessante e tão cheio de obras de arte no seu interior.
Mas não é por acaso. Muita gente passa em frente e não se apercebe da pequena placa indicativa do museu que está quase ao lado da imensa estátua da Justiça que no alto dos seus 7 metros, e inspirada na deusa Témis, sem a habitual venda nos olhos e que interpreta uma justiça de olhos abertos e sempre atenta.
à frente das 4 virtudes do Direito: Prudência, Força, Justiça e Temperança |
Este monumental edifício de 3.600 m2 foi inaugurado em 1961. Tem 8 pisos sendo que três deles estão abaixo da entrada principal e retrata o estilo arquitetónico do Estado Novo, o regime político da era Salazar. Por isso, além de recomendar a visita aos amantes da área do Direito e de obras de arte, penso que é uma visita obrigatória para arquitetos. É impressionante como estamos diante de um edifício austero e que chega a intimidar nos primeiros momentos que estamos lá dentro, devido aos pés direitos altos, as colunas, portas e cores frias.
Mas toda esta austeridade é quebrada com as centenas de obras de arte espalhadas por todos os corredores e salas. São baixos-relevos, pinturas, frescos, tapeçarias e esculturas.
Os móveis antigos dão um "ar vintage" na decoração.
Boa parte do mobiliário foi feito por reclusos do sistema prisional do grande Porto.
As pinturas retratam fatos históricos de Portugal, do Porto e cenas de outros períodos relacionados à Justiça. Todas de artistas portugueses como Júlio Resende, Isolino Vaz, Dordio Gomes, Jaime Martins Barata, Severo Portela Júnior e outros.
A Sala de Conferências |
A impressionante Sala de Audiências da Relação |
na parede a imensa pintura retrata o casamento de D. João I e Filipa de Lencastre |
Belíssima Sala de Sessões do Tribunal, as pinturas mostram as cortes de Leiria do séc. XIII |
e as cortes de Coimbra no séc. XIV |
Os corredores e os Passos Perdidos (salas de espera) também são preenchidos de obras de arte com cenas bíblicas, históricas e relacionadas à justiça dos homens e a justiça divina, além de exposições temporárias de artistas contemporâneos.
A obra que mais tocou meu coração é um imenso painel de Júlio Resende intitulada "Assistência à Infância Desvalida - Profilaxia do Crime", que destaca a importância da ação social na recuperação de crianças em perigo. Uma obra contemporânea.
Árvores, de Alberto Péssimo é a atual exposição temporária, nos corredores. |
justiça nos tempos romanos |
justiça divina |
cenas bíblicas |
história do Porto |
Uma viagem no tempo através da decoração e arquitetura.
Já o Museu Judiciário é repleto de curiosidades no que diz respeito a processos, objetos de investigação e muitos objetos relacionados aos tribunais.
Em destaque, estão processos de casos famosos da cidade do Porto, um deles o do escritor Camilo Castelo Branco que foi preso assim como sua amante Ana Plácido, por terem cometido o adultério.
Uma maleta ao melhor estilo "CSI" de outros tempos |
Já tinha visto uma cuspideira? Um acessório no mínimo curioso e obrigatório |
E nas traseiras do edifício, onde podemos ver a real dimensão do mesmo, uma imensa escultura granítica do João das Regras, jurista do séc. XIV, crucial na crise da dinastia de 1383/1385, intervindo para a garantia do trono de D. João I, salvaguardando assim, a independência nacional.
Como referi no início, esta é uma visita não só para pessoas relacionadas à área do Direito, mas também para os amantes da arquitetura. É um dos edifícios que marcam a era Salazar e que mesmo não concordando com este período tão duro na história de Portugal, há que se observar a linguagem que se queria transmitir, inclusive nas construções da época.
As visitas são sempre guiadas, mas os visitantes podem ficar à vontade para observar cada pormenor que lhe interesse. Acontecem de Segunda a Sexta-Feira entre as 10 e 12h ou 13:30 e às 17h.
Devem sempre ser agendadas com antecedência através do email:
Para quem vem do Brasil e quer incluir esta visita ao Palácio da Justiça num Passeio com Sotaque Brasileiro, basta informar quando estivermos organizando a sua viagem.
Palácio da Justiça e Museu Judiciário
Campo Mártires da Pátria - Porto
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